A CPI do Crime Organizado, instalada no Senado Federal, está revelando falhas graves na gestão de informações sobre segurança pública pelo governo do presidente Luiz Inácio Lula da Silva. As primeiras sessões da comissão parlamentar de inquérito mostraram que o país formula políticas de segurança sem dados confiáveis sobre aspectos fundamentais do sistema prisional.
Surpresa com falta de dados essenciais
O senador Fabiano Contarato (PT-ES), presidente da CPI e delegado aposentado com décadas de experiência em segurança pública, demonstrou surpresa ao constatar que o governo federal não dispõe de informações precisas sobre questões críticas. Durante audiência com o diretor de inteligência penal do Ministério da Justiça, ficou evidente a carência de dados sobre:
- População carcerária atualizada
- Taxas de reincidência criminal
- Movimentação entre facções criminosas
- Gargalos do sistema penitenciário
"Se até Contarato, com anos de atuação, está surpreso, imagine nós", resumiu o colunista José Benedito da Silva em análise sobre os trabalhos da comissão.
Composição técnica da CPI
A escolha dos senadores para comandar a investigação é apontada como um acerto. Fabiano Contarato como presidente e Alessandro Vieira (MDB-SE) como relator formam uma dupla com credibilidade técnica para conduzir os trabalhos com independência.
Contarato traz sua experiência como delegado de polícia aposentado, enquanto Vieira é reconhecido como um dos senadores mais técnicos do Congresso Nacional, também com passagem pela polícia.
Riscos e expectativas
Embora exista o risco de a CPI se transformar em palanque eleitoral com a aproximação das eleições, há expectativa de que a comissão possa entregar resultados concretos para o problema da segurança pública.
José Benedito da Silva avalia que "quanto mais perto das eleições, maior a chance de contaminação política", mas defende a iniciativa: "Acho que são iniciativas boas. Trabalhar com dados corretos é central. Se não sabemos nem onde está o problema, estamos perdidos."
As primeiras sessões já evidenciaram que o Brasil formula políticas públicas "no escuro", sem critérios claros, métricas confiáveis ou base empírica sólida. Esta situação é apontada como uma das razões centrais para a incapacidade do Estado em enfrentar facções criminosas cada vez mais organizadas e violentas.
A CPI do Crime Organizado surge em um momento de crescente preocupação nacional com a segurança pública, enquanto o Congresso tenta ocupar o espaço deixado por um governo que, até agora, não apresentou respostas concretas para o avanço das facções em estados como Rio de Janeiro, Bahia e Ceará.