Operação Colossus expõe lavagem de R$ 6,7 bi e alerta para estatização do BC
Colossus: BC precisa ser público ou Brasil vira lavanderia

A Operação Colossus representou um marco histórico no mercado de capitais brasileiro, revelando um sistema de lavagem de dinheiro em escala industrial. O caso expôs pela primeira vez a transformação do mercado financeiro nacional em uma verdadeira máquina de branqueamento de capitais, alimentada não apenas por caixa dois, mas também por recursos de organizações financeiras legítimas.

Os números alarmantes da Colossus

Os dados da operação deflagrada em 22 de setembro de 2022 são estarrecedores. Na primeira fase, foram realizadas 2 prisões preventivas e cumpridos 37 mandados de busca, sendo 22 em pessoas físicas e 15 em jurídicas. Entre as empresas alvo, destacaram-se 6 exchanges de criptomoedas, mostrando a vulnerabilidade desse setor.

O esquema movimentou recursos através de mais de 40 instituições financeiras, com bloqueio e sequestro de ativos em 28 exchanges nacionais e internacionais. A investigação identificou posteriormente 68 empresas de fachada, conforme Relatório de Inteligência Financeira do COAF.

O montante movimentado apenas em nove dessas empresas entre 2022 e 2023 chegou a R$ 6,7 bilhões, segundo dados da Operação Aluir, que representou a terceira fase das investigações.

O renascimento do Sistema Brasileiro de Inteligência

A Colossus trouxe de volta o antigo Sistema Brasileiro de Inteligência (Sisbin), que se mostrou extremamente eficiente no combate ao crime organizado. A estrutura reuniu Polícia Federal, Receita Federal, COAF, Banco Central, Ministério Público Federal e Justiça Federal atuando de forma coordenada.

O modelo permitiu que todos os órgãos de investigação trabalhassem cooperativamente, mas com controle centralizado em Brasília. Quando operações estaduais tinham alcance nacional, recorriam à capital federal para obter insumos necessários mantendo a coordenação dos serviços de inteligência.

Essa experiência havia naufragado anteriormente devido à fragilidade de comando de figuras como o ex-ministro da Justiça José Eduardo Cardozo e o ex-procurador-geral Rodrigo Janot, que transferiram poder excessivo para procuradores e juízes inescrupulosos atuando nas pontas.

A urgência da estatização do Banco Central

O quadro revelado pela Colossus reacendeu o debate fundamental sobre a natureza do Banco Central. A discussão sobre transformá-lo em fundação esconde uma questão mais profunda: deve ser uma instituição de Estado reguladora ou parceira do mercado?

Diante das evidências, não há mais espaço para dúvidas: ou o BC retoma sua função pública essencial, com servidores recuperando seu status de funcionários públicos, ou o Brasil se consolidará como a maior lavanderia de dinheiro do planeta.

O tratamento dado pelo Banco Central ao mercado de crédito tem sido considerado indecente. O crédito, que deveria ser instrumento para financiar investimentos e ampliar o bem-estar social, transformou-se em fim em si mesmo - um setor de negócios para o mercado financeiro, onde a economia real tornou-se mera coadjuvante.

Em países com projetos nacionais consistentes, o crédito funciona como meio de desenvolvimento. No Brasil, ele virou moeda de troca, lastro, mecanismo de arbitragem, instrumento de política fiscal disfarçada e, principalmente, fonte de renda para o sistema financeiro.

Desregulação como combustível do crime

O mercado desregulado tem se mostrado o principal aliado do crime organizado no país. A permissividade em relação às criptomoedas, a lavagem explícita de dinheiro, a redução de controles, a exploração de vulneráveis e o aumento das garantias bancárias criaram o ambiente perfeito para a expansão do crime.

Esta não é uma questão de opção ideológica entre mais ou menos liberalismo. Trata-se de uma decisão estratégica: o Banco Central deve integrar a frente de fortalecimento institucional ou se tornar alvo preferencial de denúncias do TCU, COAF e MPF.

A transformação do BC em fundação de direito público consolidaria definitivamente a mudança de espírito da instituição e a porta giratória entre reguladores e regulados. O momento exige a recuperação da vocação histórica do banco como guardião do interesse público.

As lições da Operação Colossus são claras: sem um Banco Central forte, público e comprometido com a regulação efetiva, o Brasil continuará vulnerável a esquemas bilionários de lavagem de dinheiro que comprometem não apenas a economia, mas a própria soberania nacional.