Soldado confessa feminicídio e incêndio em quartel de Brasília; Exército o expulsa
Soldado confessa crime e é expulso do Exército em Brasília

Um soldado de 21 anos confessou o assassinato de uma cabo e o incêndio criminoso em um quartel do Exército em Brasília. O caso, que chocou a capital federal, segue para a Justiça comum e o acusado já foi expulso da Força Armada.

Crime brutal e contradições nas investigações

Kelvin Barros da Silva, de 21 anos, está preso preventivamente no Batalhão de Polícia do Exército desde o dia 5 de abril. Ele foi indiciado pela Polícia Civil do Distrito Federal pelos crimes de feminicídio, incêndio, peculato e fraude processual.

Em depoimento, o soldado confessou ter esfaqueado a cabo Maria de Lourdes Freire Matos, de 25 anos, no pescoço. Após o ataque, ele afirmou ter ateado fogo no quartel usando álcool encontrado no banheiro e um isqueiro. Kelvin fugiu levando a arma da vítima, que posteriormente jogou em um bueiro na região do Itapoã.

As investigações, no entanto, revelam uma série de contradições. Testemunhas negaram que houvesse qualquer relacionamento amoroso entre a vítima e o acusado, informação que Kelvin tentou sustentar. Familiares e amigos de Maria de Lourdes foram veementes ao desmentir a alegação.

Outro ponto contestado é a versão sobre a arma. Testemunhas disseram que a cabo mal sabia manusear uma arma de fogo, enquanto Kelvin narrou uma discussão em que ela teria sacado a arma. A polícia também aponta que o isqueiro usado no incêndio foi emprestado, contrariando a declaração do soldado de que o item era seu.

Expulsão do Exército e caminho para a Justiça comum

Em um procedimento administrativo rápido, o Exército concluiu a exclusão de Kelvin Barros da Silva "a bem da disciplina" na última sexta-feira, dia 12 de abril. Com a expulsão formalizada, a unidade militar deve solicitar uma vaga em presídio comum para transferir o detento nos próximos dias.

O delegado Paulo Noritika, da 2ª DP (Asa Norte), explicou que o caso será enviado à Justiça comum, e não à Justiça Militar. A decisão se baseia na ausência de "motivação militar" no crime, como um conflito de hierarquia. As investigações apontam que o crime foi motivado por um interesse amoroso não correspondido de Kelvin por Maria de Lourdes.

Segundo o delegado, a jurisprudência do Superior Tribunal de Justiça (STJ) orienta nesse sentido, e é provável que o caso seja julgado pelo Tribunal do Júri.

Confissão detalhada e trágico desfecho

No sábado, dia 6 de abril, Kelvin prestou um depoimento detalhado na 2ª Delegacia de Polícia. Ele descreveu a sequência dos fatos: "Eu coloquei a arma de fogo [da vítima dentro da mochila], saí do quartel, peguei um ônibus e fui para minha cidade. Depois disso, eu taquei a arma no bueiro e fui para casa".

O soldado afirmou que, após esfaquear a vítima, agiu "no desespero" para iniciar o incêndio. A arma da cabo, uma pistola, foi descartada a cerca de 30 quilômetros do local do crime.

A prisão de Kelvin é preventiva, sem data prevista para soltura. Enquanto aguarda a transferência para o sistema penitenciário do DF, a polícia continua a apurar as contradições em seu depoimento para consolidar a acusação.