Um policial militar de 60 anos, condenado a uma pena de 46 anos de prisão pelos crimes de estupro e homicídio do próprio sobrinho de 12 anos, está foragido da Justiça há aproximadamente um mês. Jeverson Olmiro Lopes Goulart foi sentenciado no fim de outubro de 2025, mas não se apresentou para cumprir a pena.
Condenação e fuga do acusado
A sentença foi proferida pela juíza Anna Alice da Rosa Schuh, da 1ª Vara do Júri da Capital, em Porto Alegre. A magistrada determinou a execução imediata da pena e expediu mandado de prisão contra Jeverson, que respondeu ao processo em liberdade. A Delegacia de Capturas do Departamento Estadual de Investigações Criminais (Deic) da Polícia Civil assumiu as buscas pelo condenado, mas ainda não há informações sobre seu paradeiro.
O último registro da localização do PM foi em seu apartamento no bairro de Copacabana, no Rio de Janeiro, de onde acompanhou todo o julgamento por videoconferência, nos dias 27 e 28 de outubro. Um telão no plenário do fórum transmitiu sua imagem em tempo real durante o júri.
Defesa alega legalidade e recorre da sentença
O advogado de Jeverson, Edson José Perlin, emitiu uma nota de esclarecimento defendendo a conduta do cliente. Ele argumenta que não há dever legal de apresentação espontânea para cumprir uma prisão decorrente de sentença que ainda não transitou em julgado, ou seja, que está sujeita a recursos.
"A Constituição Federal estabelece a presunção de inocência até o trânsito em julgado", afirmou o defensor. "Portanto, a ausência de apresentação voluntária do senhor Jeverson não configura ilicitude, evasão, descumprimento ou qualquer atitude irregular", completou Perlin, que já interpôs recurso de apelação contra a condenação.
Os detalhes do crime que chocou Porto Alegre
O caso remonta ao dia 30 de novembro de 2016, quando Andrei Ronaldo Goulart Gonçalves, de 12 anos, foi encontrado morto em casa, com um tiro disparado pela arma do tio. A cena inicial, com o menino deitado na cama e a arma em suas mãos, levou a Polícia Civil a concluir por suicídio.
No entanto, a mãe da vítima, Cátia Goulart, irmã do acusado, nunca aceitou essa versão. Ela passou a apontar inconsistências no inquérito e desconfiou do comportamento do irmão. Sua persistência foi crucial para a reabertura das investigações.
Em março de 2020, o Ministério Público do Rio Grande do Sul denunciou Jeverson por homicídio e estupro. Segundo a acusação, liderada pela promotora Lúcia Helena Callegari, o homicídio foi cometido para ocultar o abuso sexual praticado contra o menino. Após um júri popular, ele foi considerado culpado por ambos os crimes.
A promotoria chegou a solicitar que o julgamento não fosse realizado de forma totalmente virtual e que o réu estivesse presente em um fórum, mas os pedidos não foram autorizados. O Tribunal de Justiça do RS justificou a permissão para a videoconferência com base em um pedido da defesa, que alegou residência do cliente em outro estado e questões de segurança.
Durante o julgamento, Jeverson, que participou remotamente do Rio de Janeiro, negou todas as acusações. A mãe de Andrei, Cátia Goulart, recebeu a notícia da condenação no fórum, sendo abraçada pela promotora responsável pelo caso. A juíza Anna Alice da Rosa Schuh se recusou a comentar o caso, uma vez que o processo ainda tramita na esfera recursal.