O Comitê de Supervisão da Câmara dos Representantes dos Estados Unidos divulgou, nesta quarta-feira (3), um conjunto inédito de fotografias e vídeos que mostram os interiores de uma das ilhas privadas pertencentes a Jeffrey Epstein. O bilionário, condenado por crimes sexuais, foi encontrado morto na prisão em 2019.
O retrato perturbador da ilha de Little St. James
As imagens, registradas por autoridades das Ilhas Virgens Americanas, território caribenho dos EUA, oferecem um vislumbre dos ambientes onde Epstein supostamente cometeu seus crimes. Os registros mostram quartos, banheiros, salas de massagem e detalhes que compõem, nas palavras do democrata Robert Garcia, líder do comitê, um "retrato perturbador" do mundo do financista.
Entre os itens fotografados, chama a atenção um telefone fixo com botões de discagem rápida contendo nomes. É possível identificar designações como "NY Office", "Darren Off" e "Darren Cell", enquanto outros contatos permanecem ilegíveis ou ocultos.
O mistério do quadro negro e os vídeos da propriedade
Um dos elementos que mais gerou especulação foi a foto de um quadro negro dentro de um escritório na ilha. Nele, palavras como "power" (poder) e "deception" (engano, fraude) aparecem rabiscadas, formando o que parece ser um mapa mental. A legibilidade parcial e termos apagados levantam questões sobre o significado completo da anotação.
Os vídeos divulgados incluem uma gravação trêmula, feita com câmera na mão, que começa com uma vista para o mar e percorre a área da piscina, adornada com estátuas de bronze. Outro clipe de 16 segundos faz um rápido tour por um quarto descrito como organizado, lembrando um suíte de hotel, com tapete colorido, cômoda branca, cama, escrivaninha e cadeiras.
Transparência pública e pressão por justiça
Robert Garcia afirmou que a divulgação do material tem o objetivo de "garantir transparência pública". O comitê também informou ter recebido documentos dos bancos J.P. Morgan e Deutsche Bank relacionados ao caso, com a intenção de torná-los públicos após análise. "Não vamos parar de lutar até garantir justiça para as sobreviventes", declarou Garcia, pressionando também o ex-presidente Donald Trump a liberar todos os arquivos sobre Epstein.
Em 20 de novembro, Trump havia assinado um projeto de lei que ordena a liberação de arquivos do governo sobre o caso, após meses de classificar tais pedidos como uma "farsa" liderada pelos democratas. A divulgação desta quarta, no entanto, é independente dessa lei.
Analistas, como Anthony Zurcher da BBC, avaliam que as imagens em si não contêm elementos politicamente explosivos, sendo os detalhes mais enigmáticos do que reveladores. A estratégia dos democratas no Congresso pode ser a de manter o caso Epstein em evidência e pressionar pela liberação total dos documentos federais prometida.
O material dista dos detalhes mais impactantes que emergiram de milhares de e-mails de Epstein divulgados no mês anterior, alguns dos quais mencionavam o nome de Donald Trump. O comitê também divulgou uma suposta carta de Trump a Epstein, que continha um desenho do corpo de uma mulher.
Epstein era proprietário de duas ilhas no arquipélago: Little St. James e Great St. James. Na menor delas, Little St. James, ele construiu uma vasta propriedade ao longo de mais de 25 anos. A procuradora-geral das Ilhas Virgens Americanas, Denise George, afirmou que Epstein usava a ilha para esconder suas atividades criminosas, aproveitando o isolamento geográfico que dificultava a fuga de possíveis vítimas.
Uma suposta vítima, em depoimento anônimo à CBS, relatou ter sido estuprada e mantida em cativeiro na ilha, afirmando que Epstein a trancou em um quarto onde havia uma arma presa à cama. Em 2022, a ilha Little St. James foi colocada à venda, com parte dos recursos destinada a liquidar ações judiciais pendentes contra o espólio de Epstein.