Júri popular decide destino dos acusados pelo assassinato de Madalena
Os três homens acusados pelo assassinato da ex-vereadora Madalena Leite em Piracicaba, no interior de São Paulo, enfrentarão júri popular nesta quarta-feira (19). O crime que chocou a cidade aconteceu no dia 7 de abril de 2021, e o julgamento está marcado para começar às 9h no Fórum local.
Segundo as investigações do Ministério Público de São Paulo, o homicídio teve origem em uma desavença entre Madalena e seu então braço direito no centro comunitário do bairro Boa Esperança. Após um desentendimento, a ex-vereadora expulsou o colaborador da comunidade, gerando um plano de vingança que culminaria em sua morte.
Detalhes do crime e motivação
De acordo com a denúncia do MP-SP, o principal acusado decidiu matar Madalena com o objetivo de se vingar e assumir a liderança do centro comunitário. Para executar o plano, ele recrutou outros dois réus, que concordaram em participar do crime.
No dia do assassinato, os três se dirigiram até a residência da ex-vereadora. Por conhecer um dos acusados, Madalena abriu o portão sem suspeitar do que aconteceria. Imediatamente, outro dos réus segurou a vítima pelo pescoço. Embora ela tenha conseguido se soltar, o terceiro acusado a golpeou repetidamente na cabeça com uma arma branca.
Os três fugiram do local após o ataque, deixando Madalena gravemente ferida. A ex-vereadora, que tinha 64 anos, não resistiu aos ferimentos e morreu no local.
Qualificadoras do crime e antecedentes dos acusados
O promotor Aluisio Antonio Maciel Neto, responsável pela acusação, apontou duas qualificadoras que podem aumentar as penas dos réus. A primeira é o motivo torpe, já que o crime foi cometido por vingança e ambição de poder na comunidade. A segunda é o emprego de recurso que dificultou a defesa da vítima, pois Madalena foi atraída para abrir a porta por alguém que conhecia, sendo surpreendida pelos outros dois acusados.
O MP também destacou como agravante o fato de a vítima ter mais de 60 anos. Investigações posteriores revelaram que dois dos acusados já estavam envolvidos em outro homicídio ocorrido no mesmo bairro apenas nove dias depois do assassinato de Madalena.
Em 10 de abril de 2021, o trio foi preso com 92 porções de cocaína e R$ 430 em dinheiro. Durante a prisão, a polícia encontrou com dois dos suspeitos um paletó, uma gravata, um molho de chaves e um lenço que pertenciam a Madalena, reconhecidos posteriormente por familiares.
Trajetória de Madalena e cobrança por justiça
Madalena Leite fez história em Piracicaba como a primeira vereadora travesti da cidade, eleita em 2012 com 3.035 votos - o segundo melhor desempenho do PSDB naquelas eleições. Com 25 anos de atuação como líder comunitária, ela era considerada um ícone local.
Sua trajetória foi marcada pela resistência: trabalhou desde a adolescência como cozinheira e faxineira, candidatou-se quatro vezes ao cargo de vereadora antes de ser eleita, e ficou conhecida por sua personalidade irreverente e pelo visual único. Negra com quase 1,80m de altura, Madalena nasceu em um corpo masculino mas usava roupas femininas desde jovem.
Em uma demonstração simbólica, optou por usar terno na posse como vereadora, declarando na época: "Quando me olho no espelho, vejo um homem de muita coragem". Seu nome - Madalena - foi escolhido em um concurso realizado pelos moradores de uma república onde trabalhava com sua mãe aos 15 anos.
Familiares e amigos prepararam uma homenagem especial para o dia do júri, com camisetas estampando a foto de Madalena e mensagens cobrando justiça. Uma sobrinha da ex-vereadora divulgou que "familiares, amigos e representantes da Comunidade LGBTQIAPN+ clamarão por justiça" durante o julgamento.
A trajetória de Madalena continua inspirando: um documentário sobre sua vida está em produção, com previsão de finalização para 2026, mantendo viva a memória de uma das figuras mais emblemáticas da política e do ativismo comunitário de Piracicaba.