Homem passa 27 anos no corredor da morte por crime que não cometeu
Após quase três décadas no corredor da morte, o norte-americano Jimmie Duncan finalmente recuperou a liberdade. O homem, que sempre manteve sua inocência, foi condenado em 1998 pelo homicídio da filha de sua namorada, Haley Oliveaux, que tinha apenas 23 meses na época do ocorrido.
A libertação ocorreu após o pagamento de uma fiança de 150 mil dólares, equivalente a aproximadamente 800 mil reais, marcando um capítulo crucial em uma batalha judicial que se estende por 27 anos.
Condenação anulada após novas evidências
No início deste ano, a condenação de Duncan foi formalmente anulada pelo Quarto Tribunal Distrital Judicial. O juiz Alvin Sharp considerou que as provas que levaram à condenação do homem "não eram cientificamente defensáveis" e que a morte da criança parecia ser resultado de um "afogamento acidental".
Em documento divulgado na sexta-feira, o magistrado foi enfático ao afirmar que "a presunção de que ele é culpado não é grande", abrindo caminho para a revisão do caso que manteve Duncan injustamente preso por quase três décadas.
Mãe da vítima defende ex-namorado
Allison Layton Statham, mãe de Haley e ex-namorada de Duncan, esteve presente na audiência e manifestou publicamente sua convicção na inocência do homem. Ela revelou que a filha tinha histórico de convulsões, o que torna plausível a hipótese de afogamento acidental.
"Haley morreu porque estava doente", defendeu Statham, acrescentando que "as vidas da sua família e de Duncan foram destruídas pela mentira" inventada por promotores e peritos forenses.
A mãe da criança não poupou críticas ao sistema de justiça: "A história de terror que divulgaram e que profanou a memória da minha bebê me deixa furiosa".
Provas fraudulentas e especialistas questionáveis
O caso revela graves falhas no sistema judicial. A acusação foi baseada principalmente na análise de marcas de mordidas e em uma autópsia realizada por dois especialistas que, posteriormente, foram associados a pelo menos 10 condenações sem fundamento.
Um vídeo apresentado pela defesa mostra um dos peritos pressionando com força um molde dos dentes de Duncan no corpo da criança, criando artificialmente as marcas que seriam usadas como prova.
Posteriormente, um especialista nomeado pelo Estado, que não tinha visto as imagens, testemunhou que as marcas eram compatíveis com os dentes do suspeito, consolidando uma condenação baseada em evidências fraudulentas.
Batalha judicial continua
Apesar da anulação da condenação, a batalha judicial de Duncan ainda não terminou. A decisão está sendo avaliada pelo Supremo Tribunal do Louisiana, e os promotores continuam tentando restabelecer a condenação.
Os advogados de defesa argumentam que a libertação representa "um passo significativo para a absolvição total" e destacam que as provas com base em mordidas são consideradas pseudociência pela comunidade científica.
Jimmie Duncan, descrito por sua equipe como um "prisioneiro modelo", ajudou outros detentos a obter o diploma do ensino médio durante seu tempo na prisão de Angola, onde era um dos 55 reclusos no corredor da morte no estado do Louisiana.
O caso ocorre em um contexto preocupante no estado, que realizou em março a primeira execução em 15 anos, levantando novas discussões sobre a eficácia e justiça do sistema de pena capital.