
O que começou como mais uma operação de fiscalização contra imigração irregular na Espanha rapidamente descambou para o caos. Nove pessoas foram detidas após violentos confrontos em El Ejido, cidade da província de Almería conhecida por suas estufas de agricultura intensiva — e, ironicamente, por depender de mão de obra estrangeira.
Segundo testemunhas, tudo aconteceu quando um grupo de moradores locais, armados com paus e pedras, resolveu "fazer justiça com as próprias mãos". Do outro lado, imigrantes em situação irregular, muitos deles trabalhadores agrícolas, reagiram com o que tinham à disposição. O resultado? Uma cena digna de filme de faroeste, só que no século XXI.
O estopim
Detalhes ainda são confusos, mas fontes policiais sugerem que tudo começou com um roubo não resolvido — ou pelo menos é o que alegam os autoproclamados "justiceiros". Na prática, virou uma desculpa para xenofobia disfarçada de vigilância comunitária.
"Eles chegaram gritando que iam limpar a área", relatou um comerciante local que preferiu não se identificar. "Em minutos, as ruas viraram um campo de batalha improvisado."
Reação das autoridades
A Guarda Civil espanhola não perdeu tempo. Quase uma centena de agentes foi deslocada para conter os ânimos, que já estavam mais inflamados que o sol andaluz no auge do verão. Nove indivíduos — três locais e seis estrangeiros — acabaram algemados e levados para interrogatório.
- Dois suspeitos de agressão com objetos contundentes
- Quatro por desobediência e resistência à autoridade
- Três por incitação à violência
Curiosamente, nenhum dos detidos era o suposto ladrão que teria iniciado toda a confusão. "Parece aquela história do cachorro que corre atrás do próprio rabo", comentou ironicamente um agente sob condição de anonimato.
O pano de fundo
El Ejido não é novata em tensões sociais. A cidade, que produz boa parte dos legumes consumidos na Europa, vive um paradoxo:
- Depende crucialmente de trabalhadores migrantes
- Mas parte da população os vê como ameaça
Nos últimos anos, casos de exploração laboral em estufas — os famosos "invernaderos" — pipocaram na imprensa. Condições análogas à escravidão, jornadas exaustivas, moradias precárias. Tudo isso cria um caldo de cultura perfeito para explosões de violência como a de agora.
"É fácil culpar o imigrante quando o sistema inteiro está podre", dispara Juan Martínez, ativista local. "Em vez de atacar os sintomas, deveriam tratar a doença."
Enquanto isso, os nove detidos aguardam julgamento. E El Ejido, mais uma vez, tenta colocar panos quentes em feridas sociais que nunca cicatrizam de verdade.