
Parece que o rio resolveu cobrar seu espaço de volta. Nas últimas semanas, o Solimões — aquele gigante de águas barrentas que corta o Amazonas — decidiu expandir seus domínios, invadindo terras, engolindo plantações e deixando um rastro de preocupação entre quem vive da terra.
Não foi um avanço qualquer. Segundo relatos, a cheia deste ano já está entre as piores da última década. "A água chegou tão rápido que nem deu tempo de salvar a mandioca toda", desabafa Raimundo Nonato, agricultor de 62 anos que perdeu quase 70% de sua roça.
O preço da natureza imprevisível
O que mais assusta não é só a água subindo — isso os ribeirinhos já conhecem. É a intensidade. Plantações de banana, macaxeira e até frutíferas que normalmente resistiam agora estão completamente submersas. Alguns produtores tentaram improvisar barreiras com sacos de areia, mas contra a força do Solimões, parece brincadeira de criança.
- Mais de 200 famílias afetadas diretamente
- Prejuízos estimados em R$ 3,5 milhões
- Comunidades isoladas sem acesso a mercados
E não é só a colheita que se foi. O gado, sem pasto, está sendo alimentado com o que sobrou das reservas. "A gente vende leite, mas como produzir se até o capim sumiu?", questiona Maria das Dores, que cria vacas há 15 anos na região.
Além da enchente: o drama humano
O que os números não mostram é o desespero silencioso. Tem gente que investiu tudo no plantio da época e agora vê meses de trabalho literalmente por água abaixo. Sem seguro agrícola — quem diria —, muitos dependem de ajuda emergencial.
Mas nem tudo está perdido. Algumas associações começam a se mobilizar. "Estamos coletando doações de sementes resistentes", conta o líder comunitário João Batista. "Quando a água baixar, precisamos replantar rápido."
Enquanto isso, o rio segue seu curso, indiferente. E os ribeirinhos, acostumados a conviver com seus humores, torcem para que o Solimões decida, logo, voltar ao seu leito.