O planeta Terra segue em direção a um aquecimento global catastrófico de 2,6°C até o final deste século, de acordo com análise divulgada pelo Climate Action Tracker (CAT) nesta quarta-feira (13). O relatório, um dos mais respeitados no acompanhamento do Acordo de Paris, mostra que as recentes atualizações dos planos climáticos nacionais praticamente não alteraram as projeções anteriores.
Metas climáticas atuais são insuficientes
As Contribuições Nacionalmente Determinadas (NDCs) apresentadas por diversos governos antes da COP30, que acontece em Belém do Pará, tiveram impacto quase nulo nas projeções globais de emissões e temperatura. O estudo conclui que as políticas atuais levariam o planeta a um aquecimento médio de 2,6°C, valor significativamente acima do limite seguro estabelecido entre 1,5°C e 2°C no Acordo de Paris de 2015.
Segundo Sofia Gonzales-Zuñiga, autora principal do estudo e pesquisadora da Climate Analytics, "estamos ficando sem tempo". Ela enfatiza que cada nova usina a carvão, contrato de gás natural ou barril de petróleo exportado representa bilhões em prejuízos para populações que já enfrentam secas, enchentes e ondas de calor extremas.
Saída dos EUA do Acordo de Paris agrava crise
O CAT atribui parte da piora nas projeções à decisão dos Estados Unidos de abandonar o Acordo de Paris, anunciada no início de 2025 pelo presidente Donald Trump. Esta medida anulou a meta americana de zerar emissões até 2050, revertendo políticas implementadas durante o governo Biden.
Embora países como Turquia, Coreia do Sul e México tenham apresentado novos planos climáticos, a maioria das NDCs apresenta pouca aceleração nos cronogramas de descarbonização. Muitas nações continuam fora da rota para cumprir suas metas estabelecidas para 2030 e 2035.
Cenário otimista ainda é preocupante
O relatório também apresenta um cenário mais favorável, onde todos os países cumpririam integralmente suas metas de curto e longo prazo. Nesse caso, o aquecimento seria limitado a 2,2°C até 2100 - ainda acima do limite considerado seguro e ligeiramente pior que a projeção de 2,1°C do ano anterior.
Os pesquisadores afirmam que este "retrocesso" se deve principalmente à ausência dos Estados Unidos no esforço global contra as mudanças climáticas. O "vácuo" americano amplia significativamente a diferença entre as metas nacionais e o que seria compatível com o limite de 1,5°C.
Este "gap de metas" deve alcançar 31 gigatoneladas de CO₂ em 2035, representando um aumento de 2 bilhões de toneladas em relação à década anterior. Com muitos governos ainda não tendo submetido suas metas para 2035, a COP30 começa com uma fotografia incompleta da ambição climática global.
Progresso existe, mas é insuficiente
Apesar do alerta preocupante, o relatório também destaca sinais de progresso. O CAT lembra que em 2015, antes do Acordo de Paris, o mundo caminhava para um aquecimento de 3,6°C. Desde então, políticas e investimentos em energia limpa reduziram essa trajetória em aproximadamente 1°C.
A avaliação do CAT coincide com relatório recente da Agência Internacional de Energia (AIE), que prevê o pico da demanda por petróleo e carvão nesta década. No entanto, alerta que o planeta deve ultrapassar temporariamente o limite de 1,5°C antes de estabilizar a temperatura, mesmo com uma transição energética acelerada.
As conclusões chegam em momento crucial para a diplomacia climática mundial. Em Belém, onde ocorre a COP30, negociadores tentam reconstruir a confiança no Acordo de Paris e pressionar por planos mais ambiciosos até 2035.
O desafio principal, segundo o CAT, é transformar promessas políticas em ações concretas de descarbonização, especialmente nas grandes economias que continuam investindo em combustíveis fósseis.
Como resume um dos pesquisadores, "o mundo melhorou muito desde 2015, mas se quisermos garantir um futuro seguro, o ritmo atual ainda está longe do necessário". A janela de oportunidade para evitar as piores consequências das mudanças climáticas continua se fechando rapidamente.