
Quem viveu nunca esqueceu. Quem não viveu dificilmente acredita. Meio século atrás, Curitiba — sim, aquela Curitiba de invernos úmidos e garoentos — acordou coberta por um manto branco que mais parecia cenário de filme alemão. Era 14 de julho de 1975, e a cidade parava para ver a neve cair como num sonho.
O dia em que o inverno brasileiro virou notícia mundial
Enquanto os termômetros marcavam temperaturas absurdas para os padrões tropicais (alguém aí lembra dos -5,4°C registrados na região?), os curitibanos — muitos de pijama e chinelo — saíam às ruas como crianças diante da primeira árvore de Natal. "Parecia que tinham espalhado algodão doce por toda a cidade", conta o aposentado João Carlos Scheffer, então com 22 anos, em um relato que mistura nostalgia e incredulidade.
Não era miragem. Segundo os meteorologistas da época, uma combinação raríssima de fatores criou o fenômeno:
- Massa polar intensíssima (daquelas que fazem até os gaúchos tremerem)
- Umidade elevadíssima — típica da nossa querida garoa
- E um "ingrediente secreto": ventos que trouxeram cristais de gelo de altitudes elevadas
Caos e poesia nas ruas
O transporte público? Esquece. Ônibus e carros ficaram imobilizados como brinquedos esquecidos no freezer. Mas quem se importava? As ruas viraram palco de improvisadas guerras de bolas de neve — sim, brasileiro não perde a chance de brincar, mesmo no frio siberiano.
"Minha mãe me vestiu com todas as roupas que tinha em casa, até meias nas mãos!", ri a professora aposentada Maria Lúcia Franco, que aos 12 anos pulava em montes de neve no Batel. "No dia seguinte, a cidade parecia ter voltado ao normal, como se fosse magia."
E quando será a próxima?
Os especialistas são unânimes: "Não segurem a respiração". Mudanças climáticas à parte, as condições para neve em Curitiba são tão específicas que fazem um gol de placa do Ronaldinho Gaúcho parecer coisa simples. "É como ganhar na Mega-Sena, só que mais frio", brinca o meteorologista Felipe Farias.
Enquanto isso, resta aos curitibanos — e aos turistas que sonham com o fenômeno — se contentarem com as memórias congeladas no tempo e nas fotografias amareladas. Quem sabe, em outro meio século, a magia branca não se repita?