A cidade de Belém deu início à COP30 nesta segunda-feira, 10 de novembro de 2025, com um marco significativo: 194 delegações de países já estão credenciadas para participar da conferência climática. As informações foram confirmadas pelo Itamaraty e representam um importante termômetro do interesse internacional no evento.
Diplomacia e ausências notáveis
O credenciamento, embora não equivalha a uma presença confirmada definitiva, funciona como um importante gesto diplomático. A lista inclui um participante surpresa: a Argentina, cujo presidente, Javier Milei, havia vetado a participação de sua equipe na COP anterior e manifestado publicamente objeções ao Acordo de Paris.
Enquanto isso, os Estados Unidos permanecem fora da lista de delegações credenciadas, situação que persiste apesar dos convites reiterados do presidente Luiz Inácio Lula da Silva ao presidente norte-americano Donald Trump.
Crise de hospedagem ameaça inclusividade
A oferta de hospedagem em Belém tornou-se um dos principais desafios para a realização da COP30. Relatórios internacionais apontam que diárias em hotéis alcançaram valores até dez vezes superiores aos praticados normalmente em eventos desse porte.
As cifras elevadas levaram delegações de países em desenvolvimento a alertar para o risco de exclusão e chegaram a questionar se o evento deveria ocorrer na cidade amazônica. A percepção geral entre os participantes é de que o alto custo e a escassez de acomodações podem afetar a inclusividade da conferência.
O governo federal, por sua vez, afirma que Belém conta com aproximadamente 53 mil leitos para o evento - número superior à estimativa de até 50 mil participantes. Esta capacidade inclui novos hotéis, registros de imóveis privados e até navios-hotel.
Resposta do governo às críticas
Diante das críticas, o governo brasileiro intensificou o diálogo com embaixadas e organizações internacionais. O secretário extraordinário para a COP30, Valter Correia, afirmou que "o Brasil trabalhou para dar condições a todos estarem nessas negociações e fazermos uma das melhores COPs da história".
O ministro do Turismo, Celso Sabino, destacou que a ampliação da rede hoteleira, apoiada pelo governo federal, "prepara Belém e toda a Amazônia para receber o mundo" e será um legado de turismo sustentável e desenvolvimento local.
André Corrêa do Lago, diplomata e presidente da COP30, admitiu francamente que "os preços dos hotéis ficaram muito acima da média de qualquer COP". No entanto, ele ressaltou em várias oportunidades que o evento não seria esvaziado pela crise de hospedagem.
Medidas emergenciais implementadas
Para enfrentar a situação, o Brasil adotou várias medidas estratégicas:
- Criação de uma plataforma oficial de reserva de hospedagem para os credenciados da COP30, centralizando as reservas
- Utilização de navios-hotel e adaptação de imóveis privados para ampliar a oferta
- Investimentos federais de mais de R$ 440 milhões na Região Norte para turismo e hospitalidade
- Renovação da rede hoteleira de Belém com novos empreendimentos
Essas iniciativas ajudaram a contornar as dificuldades de última hora. Embora as críticas persistam, o acesso de delegações mais numerosas foi assegurado, mantendo a expectativa de que o evento conservará sua escala global.
Desafios e oportunidades da COP30
A COP30 emerge como uma jornada dupla para o Brasil. Por um lado, simboliza a ambição brasileira de protagonismo na agenda climática - discutindo o futuro da Amazônia no próprio coração da floresta. Por outro, revela os desafios reais de logística, infraestrutura e equidade de participação em um evento global de grande magnitude.
A efetividade da realização depende agora de que os acenos diplomáticos - como o credenciamento de 194 países - se transformem em presença concreta e de que Belém seja vista não apenas como palco, mas como espaço de negociação inclusiva e ação climática transformadora.