O presidente Luiz Inácio Lula da Silva fez um apelo contundente durante a COP30, defendendo a criação urgente de um mapa do caminho claro para eliminar a dependência global de combustíveis fósseis. O governo brasileiro tem trabalhado nos bastidores da conferência climática para oficializar este plano na agenda do evento.
O que é o mapa do caminho?
Conhecido internacionalmente como roadmap, o mapa do caminho representa um plano de ação detalhado que estabelece etapas concretas, prazos definidos e metas específicas para alcançar um objetivo comum. Na prática, funciona como um roteiro político e técnico que determina quem deve fazer o quê, até quando e com quais recursos.
Lula mencionou explicitamente esta proposta em seu discurso de abertura da conferência, sinalizando que esta seria uma das principais tarefas da COP30, sediada em Belém.
Articulação diplomática nos bastidores
Apesar da defesa pública do presidente, o mapa do caminho não consta na agenda oficial da COP30 - assim como outros quatro temas importantes, incluindo o debate sobre ampliação do financiamento climático.
Fontes ligadas ao governo revelaram que está em curso uma articulação diplomática cuidadosa para incluir o tema. A estratégia envolve outro país - não o Brasil - liderar a proposta, com o Brasil oferecendo apoio público.
A Colômbia emerge como principal candidata para esta iniciativa e pode anunciar a proposta ainda na próxima semana. O país ganhou credibilidade ambiental ao proibir a exploração de petróleo em sua área da Amazônia, um movimento significativo para uma nação em desenvolvimento.
Alianças e resistências
Segundo apuração da agência AFP, a Colômbia já conta com o apoio de aproximadamente 60 países, incluindo Quênia, Alemanha e Reino Unido. O maior obstáculo vem de nações cujas economias dependem fortemente do petróleo, como a Arábia Saudita.
Estes países argumentam que seria necessário mais tempo e condições justas de transição, onde nações em desenvolvimento não sejam as primeiras a arcar com os custos da mudança.
Estratégia pragmática
O objetivo do Brasil não é entregar um mapa definitivo com datas e regras específicas - o que poderia travar as discussões. A proposta é mais pragmática: criar um grupo de trabalho que atue durante dois anos para definir os como e quando da transição.
Este grupo apresentaria seus resultados na COP32, programada para 2027. Ainda está em discussão se a estratégia seria incluída no texto final da COP30 - o que exigiria consenso unânime - ou se seria uma "decisão de capa", documento apresentado pelo presidente da conferência para incluir temas não negociados por todos os países.
Demonstrações de apoio
Uma amostra desta articulação ocorreu na quinta-feira (14), quando a ministra do Meio Ambiente, Marina Silva, reuniu-se com representantes do Reino Unido, França e Colômbia, além do Nobel de Economia Nicholas Stern, especialista em economia de baixo carbono.
Durante o evento, a representante britânica afirmou categoricamente à ministra: "Estamos totalmente com você", reforçando o apoio à transição energética prática.
Significado histórico
Especialistas destacam que, mesmo sem datas e regras definidas, a oficialização desta transição representaria um avanço significativo em comparação com a COP28 em Dubai, onde os países concordaram pela primeira vez na necessidade de "transição para longe dos combustíveis fósseis", mas sem estabelecer como e quando.
Stela Herschmann, especialista em clima, explica: "Isso é um avanço muito grande. A gente teria uma obrigação formal de discutir as datas e os formatos disso em breve. Seria um marco de sucesso da COP".
Paulo Artaxo, professor da USP e membro do Painel Intergovernamental de Mudanças Climáticas da ONU, reforça a urgência: "A COP30 só está ocorrendo por causa da queima de combustíveis fósseis, que é a razão de 90% do aquecimento global. Portanto, desenhar um mapa do caminho para que a humanidade se livre dos combustíveis fósseis é a melhor coisa e a coisa mais importante que a COP30 pode realizar".