Arquiteta do Acordo de Paris alerta: COP30 precisa de ação concreta
Arquiteta do Acordo de Paris desafia COP30

A economista e diplomata francesa Laurence Tubiana, considerada uma das principais arquitetas do Acordo de Paris, chegou a Belém com uma mensagem urgente para a COP30. Aos 73 anos, a enviada especial da presidência brasileira da conferência para a Europa alerta que o sistema multilateral está sob pressão e que a reunião na Amazônia precisa produzir resultados concretos.

Conflito entre modelos econômicos ameaça negociações

Laurence Tubiana identifica um conflito fundamental no coração das discussões climáticas. Segundo ela, existem atualmente duas visões econômicas em confronto: países que querem voltar ao petróleo e gás contra nações que consideram a transição energética inevitável. Este embate está pressionando o sistema multilateral e dificultando avanços significativos.

Nomeada pelo Itamaraty para articular governos, investidores e instituições europeias, a diplomata atua como ponte política para ampliar adesões à agenda climática proposta pelo Brasil. Sua função, conforme explica, é "abrir portas e remover ruídos" em um momento crucial para o futuro do planeta.

Metodologia atual favorece quem fala mais alto

A especialista francesa critica o método de negociação atual, que segundo ela beneficia os países mais vocalizados. Este sistema desloca o centro de gravidade das discussões e empurra temas cruciais como combustíveis fósseis para fora do debate real.

Tubiana também alerta sobre a "ilusão de consenso", quando nações aceitam textos genéricos para evitar conflitos. Este mecanismo produz declarações de intenção sem ação concreta. "Se continuarmos assim, teremos textos que dizem tudo e não entregam nada. O desafio da COP30 é romper esse padrão", afirma.

Adaptação é prioridade imediata, não futura

Para a arquiteta do Acordo de Paris, o financiamento para adaptação representa o ponto mais urgente. Esta área historicamente recebe menos recursos que a mitigação, deixando países vulneráveis expostos a eventos climáticos extremos.

Tubiana defende que a COP30 estabeleça uma arquitetura mínima que dê previsibilidade aos recursos destinados a enchentes, secas e infraestrutura resiliente. "Os países não podem planejar políticas com base em anúncios voluntários. Precisam de garantias", enfatiza.

Risco de soluções radicais cresce com lentidão

A diplomata faz um alerta preocupante: se a conferência não entregar avanços concretos, crescerá o espaço para propostas tecnológicas arriscadas. Ela menciona especificamente a pulverização de partículas na atmosfera para resfriamento artificial como exemplo de solução perigosa que ganha terreno quando o sistema político falha.

Este cenário demonstra que a lentidão das negociações cria um vazio de credibilidade que precisa ser revertido urgentemente.

China como peça estratégica na transição irreversível

Tubiana destaca o papel decisivo que a China terá em Belém. Em conversas recentes, ouviu de representantes chineses que Pequim vê a transição energética como parte estrutural de sua política industrial. "Eles mesmos me disseram que, desde Paris, mudaram a visão da própria economia. Consideram a transição irreversível", revela.

Esta postura pode ajudar a destravar trechos sensíveis do acordo final, desde que o texto não repita disputas anteriores entre países produtores e importadores de combustíveis fósseis.

COP30 deve restaurar confiança nos mercados

Para a especialista francesa, a relevância da COP30 será medida pela capacidade de restaurar confiança nos instrumentos multilaterais e enviar um sinal claro para investidores. "O Acordo de Paris é, sobretudo, um sinal para o mercado. Ele diz: este é o caminho, e isso funciona. Se a COP30 não reforçar esse sinal, perderemos tempo preciosíssimo".

A localização da conferência na Amazônia adiciona um simbolismo poderoso. Estar nesta região obriga todos os participantes a encarar a realidade climática de frente, transformando a COP30 de uma discussão abstrata em um encontro ancorado num território que está no centro do problema.