Mulher fica 24 horas amarrada em hospital psiquiátrico no DF e Justiça condena governo a indenizar
DF deve indenizar mulher amarrada 24h em hospital

Imagine passar um dia inteiro amarrada como um pacote esquecido no fundo de um armário. Foi exatamente isso que aconteceu com uma mulher em um hospital psiquiátrico do Distrito Federal - e agora a Justiça deu razão à vítima.

O caso, que parece saído de um roteiro de filme de terror, aconteceu em 2021, mas só agora ganhou seu capítulo final. A Quarta Turma do Tribunal Regional Federal da 1ª Região (TRF1) confirmou a condenação do governo local a pagar R$ 50 mil de indenização por danos morais.

"Tratamento" que mais parecia tortura

A vítima - cujo nome foi preservado - foi submetida a algo que chamam de "contenção mecânica" por incríveis 24 horas seguidas. Traduzindo: ficou amarrada de pés e mãos como se fosse um perigo iminente, sem qualquer justificativa plausível.

Os detalhes são de arrepiar:

  • Imobilização total por um dia inteiro
  • Sem acompanhamento médico adequado
  • Violência institucional escancarada

Não bastasse o constrangimento físico, a mulher ainda teve que conviver com a humilhação de ser tratada como um objeto, não como pessoa. "Isso não é tratamento, é desrespeito à dignidade humana", comentou um especialista que preferiu não se identificar.

Justiça não engoliu a história

A defesa do Distrito Federal tentou argumentar que a contenção era "protocolo". Só que os juízes não compraram essa versão - e olha que não foi por pouco. A decisão foi unânime, mostrando que até a Justiça tem seus limites de paciência.

O relator do caso, juiz federal Danilo Pereira Júnior, foi direto ao ponto: "Não há qualquer justificativa plausível para a manutenção da paciente em contenção mecânica por tão longo período". Traduzindo: prender alguém assim é coisa de filme de máfia, não de hospital.

E tem mais - a sentença original já havia sido dada em 2022, mas o governo insistiu em recorrer. Resultado? Perdeu de novo, e agora a conta chegou mais salgada.

O valor da dignidade

Os R$ 50 mil podem até parecer pouco para quem nunca passou por algo assim. Mas a questão vai muito além do dinheiro - é sobre marcar na pele do poder público que certas práticas não podem ser toleradas.

Especialistas em saúde mental torcem o nariz para esses casos: "Contenção só em último caso, e por pouco tempo", explica a psicóloga Maria Fernandes (nome fictício). "Quando vira rotina, é sinal de que o sistema está doente."

Enquanto isso, a vítima tenta reconstruir a vida - mas cicatrizes assim não somem com uma canetada judicial. O caso serve de alerta: até quando vamos fechar os olhos para o que acontece nos "porões" da saúde pública?