
O Brasil tem memória curta — curta demais. Enquanto o Itamaraty solta notas pomposas criticando a ação policial britânica no caso da jovem brasileira morta em Londres, as vítimas de Mariana esperam há oito anos por um mísero sinal de justiça. Conveniente, não?
Lá fora, um caso isolado (e trágico, claro) vira crise diplomática. Aqui dentro, 19 mortos e um rio de lama que destruiu vidas, sonhos e ecossistemas viram... bem, viram pó. Literalmente.
Dois pesos, duas medidas
O Ministério das Relações Exteriores brasileiro praticamente declarou guerra ao Metropolitan Police. Exigiu explicações, pressionou autoridades, mobilizou a máquina diplomática. Tudo certo — afinal, uma vida brasileira importa.
Mas e as 19 vidas soterradas pela ganância da Vale, BHP e Samarco? Onde estava essa fúria toda quando o Rio Doce virou cemitério?
- 8 anos de espera
- 663 km de rio destruídos
- 1.469 famílias desabrigadas
- Zero responsáveis atrás das grades
Os números gritam. O silêncio do poder, também.
Justiça? Só pra inglês ver
O acordo de R$ 37 bilhões assinado em 2021 parece cifrão de novela — bonito no papel, inexistente na prática. Enquanto isso:
- Comunidades ribeirinhas bebendo água mineral doada (quando doam)
- Pesquisadores alertando que a lama tóxica ainda contamina o solo
- Promessas de reassentamento que nunca saem do PowerPoint
E o pior? Ninguém — absolutamente ninguém — foi criminalmente responsabilizado. Nem o zé-mané, muito menos os engravatados que assinaram os laudos de segurança.
A geografia da injustiça
Parece que no Brasil existem dois tipos de vítimas:
1. As que geram like e engajamento diplomático
2. As que moram longe dos holofotes e dos aeroportos internacionais
Mariana ficou no segundo grupo. E olha que ironia: enquanto o governo brasileiro exige transparência dos britânicos, processos sobre o rompimento da barragem seguem embargados — alguns até classificados como sigilosos.
Quer dizer... sigilo pra pobre, transparência pra rico?
No final, o que fica é o gosto amargo da desigualdade até na dor. E a pergunta que não quer calar: quantas Marianas precisam acontecer até que vidas brasileiras valham mais que discursos?