O ministro de Portos e Aeroportos, Silvio Costa Filho, reacendeu um debate crucial para a aviação e a economia do Rio de Janeiro. Em entrevista à GloboNews na segunda-feira, 22 de abril, ele afirmou que o volume de passageiros no Aeroporto Santos Dumont deve aumentar a partir de 2026. A declaração trouxe à tona a discussão sobre uma possível flexibilização do limite operacional do terminal, localizado no Centro da cidade, atualmente restrito a 6,5 milhões de passageiros por ano.
Entidades se posicionam contra a mudança
A Federação do Comércio de Bens, Serviços e Turismo do Estado do Rio de Janeiro (Fecomércio-RJ) e a Federação das Indústrias do Rio (Firjan) manifestaram forte oposição à ideia de ampliar o teto de voos no Santos Dumont. Para as entidades, a mudança pode desequilibrar o sistema aeroportuário fluminense e causar prejuízos econômicos.
Delmo Pinho, engenheiro da Fecomércio, argumenta que os aeroportos Santos Dumont e Galeão (Tom Jobim) operam em "completa simbiose". Segundo ele, qualquer alteração em um afeta diretamente o outro. "Quando sobra para um lado, falta para o outro, e é isso que vai acontecer [em caso de flexibilização]. Nós estamos penalizando o melhor aeroporto do Brasil, que é o Galeão", afirmou Pinho, destacando a capacidade e os bons resultados do terminal internacional.
Em nota oficial, a Fecomércio-RJ defendeu a manutenção do limite atual, classificando qualquer alteração como inoportuna e contrária ao interesse público. A entidade ressaltou que o teto foi estabelecido com base em estudos técnicos e alertou para impactos negativos no turismo, comércio e serviços do estado.
Dados econômicos apoiam a restrição, diz Firjan
Isaque Ouverney, gerente de infraestruturas da Firjan, apresentou dados para justificar a manutenção da coordenação atual entre os aeroportos. Ele destacou que o Rio de Janeiro tem conseguido aumentar o volume de passageiros domésticos e internacionais acima da média nacional, assim como o volume de cargas, indicando que o modelo está funcionando.
Ouverney enfatizou que os aeroportos têm vocações complementares e distintas. "É superimportante que estes aeroportos atendam às suas vocações principais: o Santos Dumont, tendo a vocação para ser um aeroporto de conexão doméstica, uma localização estratégica; e o aeroporto internacional, por sua vez, tem a vocação de ser o hub internacional do Rio de Janeiro", explicou.
Enquanto isso, o Aeroporto Internacional Tom Jobim (Galeão) segue em expansão. Apenas nos dois primeiros meses de 2024, o terminal recebeu 473 mil visitantes estrangeiros, consolidando seu papel como portal de entrada internacional.
Interesses de mercado e visão política
Marcus Quintella, diretor da FGV Transportes, avalia que a discussão também envolve interesses de mercado e das companhias aéreas. Ele lembra que a legislação da Agência Nacional de Aviação Civil (Anac) garante liberdade para as empresas aéreas escolherem rotas e frequências.
"Pode estar havendo alguma identificação de que isso precisa ser reativado no Santos Dumont, sem prejudicar o Aeroporto do Galeão", ponderou Quintella, sugerindo que a demanda do setor pode estar pressionando por uma revisão.
No domingo, 21 de abril, o prefeito do Rio, Eduardo Paes (PSD), já havia criticado publicamente a discussão sobre mudanças no limite do aeroporto. A fala do ministro Silvio Costa Filho, portanto, contraria a posição do chefe do Executivo municipal e acende um debate que envolve poder público, setor empresarial e operadores do mercado de aviação.
O desfecho dessa discussão definirá não apenas o futuro operacional dos dois principais aeroportos do Rio, mas também terá reflexos diretos na economia, no turismo e na logística de todo o estado fluminense.