Alerta no Esporte: Estudo Revela que Impactos na Cabeça Podem Alterar Células Cerebrais de Jovens Atletas
Impactos na cabeça alteram cérebro de jovens atletas

Imagine, por um segundo, o som surdo de um tackle no futebol americano. Ou uma cabeçada firme numa partida de futebol. São cenas comuns, quase banais, nos campos desportivos. Mas e se cada um desses impactos, aparentemente inofensivos, estivesse silenciosamente remodelando o cérebro de um adolescente?

Pois é exatamente isso que um estudo novo — e francamente arrepiante — acaba de sugerir. Uma equipa de investigadores da Universidade do Texas, nos Estados Unidos, decidiu ir além das concussões óbvias e focar no que chamam de «impactos subconcussivos». Traduzindo: aquelas pancadas na cabeça que não chegam a derrubar o atleta, não causam desmaio, mas se repetem… dezenas, centenas de vezes.

O método foi inteligente. Recrutaram atletas do ensino médio — miúdos, basicamente — que praticavam futebol americano e futebol, e equiparam-nos com uns capacetes de última geração, cheios de sensores. Durante uma temporada inteira, monitorizaram cada cabeçada, cada encontrão, cada queda. No total, foram mais de 200 impactos por atleta. Assustador, não?

Mas a parte mais crucial veio depois. Os investigadores colheram amostras de sangue desses jovens antes e depois dos jogos. E aí é que a coisa ficou séria. Eles não estavam à procura de marcadores de concussão. Queriam algo mais subtil, mais insidioso: sinais de que as células cerebrais estavam a ser afetadas a um nível molecular, mesmo sem sintomas visíveis.

E encontraram. Os resultados, publicados numa revista científica de peso, mostram que os impactos repetitivos estão associados a alterações em biomarcadores ligados a danos neuronais. Um deles, a proteína GFAP, que é liberada quando há lesão nas chamadas células de suporte do cérebro (os astrócitos, para ser exato), apareceu em níveis mais elevados. Outro, a proteína ligada aos axónios (os «cabos» de comunicação dos neurónios), também.

O que isso significa na prática? Bom, ninguém está a afirmar, categoricamente, que estes miúdos vão desenvolver demência ou encefalopatia traumática crónica (a tal CTE que assombra ex-jogadores da NFL). A ciência é cautelosa. Mas é um sinal de alerta gigantesco. São como pequenos gritos de socorro do cérebro, indicando que algo não está bem — muito antes de qualquer sintoma clínico aparecer.

O que isso muda para os nossos jovens atletas?

Para mim, este estudo é um ponto de viragem. Sem drama, mas com seriedade. Sempre nos preocupámos com as concussões. Agora, temos de começar a falar seriamente sobre a acumulação de microtraumas. É uma mudança de paradigma.

  • Para os pais: Vale a pena perguntar aos clubes e escolas que políticas têm para limitar estes impactos nos treinos. Quantas cabeçadas são demasiadas?
  • Para os treinadores: Talvez seja hora de repensar alguns exercícios. Será que todos os contactos são mesmo necessários durante a prática?
  • Para as federações: A discussão sobre equipamentos de proteção mais eficazes, e talvez até regras desportivas, precisa de ser retomada com urgência.

O desporto é incrível para o desenvolvimento de qualquer jovem. Ensina disciplina, trabalho de equipa, resiliência. Mas a sua prática não pode — não deve — ser uma ameaça à saúde cerebral a longo prazo. Este estudo não é um veredicto final, mas é um poderoso começo de conversa. E essa conversa não pode mais ser adiada.