Tragédia no Pantanal: Acesso Difícil Atrasa Perícia e Repatriação de Corpo de Médico em Acidente Aéreo
Acesso difícil atrasa perícia após queda de avião no Pantanal

Imagine a cena: a vastidão alagada do Pantanal, um cenário de beleza brutal onde a natureza dita as regras. Foi neste palco hostil que uma tragédia silenciosa se desenrolou, transformando um voo rotineiro numa missão impossível para as equipes de resgate.

O médico veterinário Alessandro Basso, de 44 anos, não voltaria para casa. Sua aeronave, um modelo Cessna 210, simplesmente desapareceu dos radares na terça-feira (16) — e o que se seguiu foi um exercício de paciência e frustração contra a geografia implacável.

O Longo Caminho até a Verdade

Encontrar os destroços foi só o começo. A verdadeira batalha começou depois. Como chegar até lá? A região, distante dos centros urbanos, é um emaranhado de rios, áreas alagadas e estradas intransitáveis. As equipes do Corpo de Bombeiros, acostumadas ao inusitado, se viram diante de um quebra-cabeça logístico digno de filme.

Eles tentaram por terra. Nada feito. A água, o barro e a vegetação fechada disseram não. Partiram então para a via fluvial, navegando pelos rios da região — uma jornada lenta, meticulosa, que consumiu horas preciosas. Até que, finalmente, na quarta-feira (17), confirmaram o óbito do piloto, único ocupante da aeronave.

A Espera Angustiante pela Perícia

O corpo do profissional, no entanto, permanecia no local. E aí veio outro capítulo dessa saga: a espera pela perícia técnica. Dois peritos criminais designados para o caso enfrentaram a mesma via crucis de acesso. Sem helicoptero disponível na hora, dependendo de barcos e muito esforço braçal, o tempo foi passando.

É um daqueles momentos em que a burocracia e a realidade geográfica colidem, criando um limbo angustiante para todos, especialmente para a família aguardando em luto. A Polícia Civil, responsável pela investigação do acidente, aguardava a conclusão da perícia para liberar a retirada do corpo.

Além da Tragédia: Um Alerta para a Aviação Regional

Este incidente, para além da dor humana incontestável, joga luz sobre um problema crônico: a operação em regiões remotas do país. O Pantanal, vital para o agronegócio e o turismo, pune qualquer erro ou infortúnio com isolamento extremo. Aviões como o de Alessandro são veículos de trabalho, lazer e conexão nestes interiores. Sua queda expõe a vulnerabilidade de quem depende deles.

O que falhou? Mau tempo? Problema mecânico? A investigação apura. Mas uma coisa é certa: a dificuldade de acesso não é um detalhe, é um personagem central nesta história, retardando respostas, alongando o sofrimento e nos lembrando como, às vezes, estamos à mercê do terreno.

Enquanto a família de Alessandro Basso aguarda para dar um último adeus, o Pantanal segue imponente — belo, sim, mas também indiferente e desafiador.